Meras coincidências
Passeando pelo museu, ela vê um senhor que aparenta mais de 100 anos sentado olhando para a parede com olhar desnorteado...
- Bom dia! Tudo bem?
- Sim!
- O senhor precisa de algo?
- ...
- O que o senhor está vendo?
- Abaporu!
- Como?
- Mistura de naturalismo, primitivismo, cubismo e um toque surrealista que mescla folclore, cultura, nacionalidade...
- O senhor realmente está bem? Não está falando coisa com coisa... Queres que eu chame alguém?
- Ninguém mais entende... ninguém atenderia... todos mortos
- Pobre homem... e continua olhando para a parede... Não há alguém para eu chamar?
- Estou olhando o quadro! Lembrando de uma época que passou. Ficou só a lembrança e a saudade
- Que época foi essa?
- Uma época que transformou as ideias, pensamentos, a própria criatividade!
- E o senhor fez parte disso?
-
Muito mais... Nasci por conta disso ou pelo menos uma ideia do que sou.
Sou a confluência se tudo que foi pensado, de todas as ideias, mesmo as
contraditórias, profundamente o quadro simboliza a grande expressão desse momento.
- O que ele representa?
- Antropofagia!
- Ah! O senhor é um antropófago...
-
KKKKKKKKK .... Não! Entre muitas coisas que fui e sou, esta não. E esse
não é o sentido exato do quadro. Sou mais a síntese miscigenada da
cultural-folclórica brasileira.
- O senhor é dessa época?
- Mais ou menos, mesma década. 1928.
- Então deves ter...
- 87 anos.
- Qual o seu nome?
- Já terminaste o Ensino Médio?
- Não. Estou no 2º ano!
- Você vai ouvir falar de mim, então!
Sem
mais nada a falar, levantou-se e foi embora. Ela ficou meio sem
entender muita coisa e o que viu a deixou mais atônita. O senhor idoso
de 87 anos transformou-se em um lindo jovem branco e loiro ...
Texto de André Gustavo Maia Mourão